Como o Selpercatinibe está redefinindo o tratamento personalizado no câncer com alteração de RET

Gustavo Schvartsman • 17 de junho de 2025

A medicina de precisão tem ampliado as possibilidades terapêuticas na oncologia, permitindo intervenções mais direcionadas com base em alterações genéticas específicas. Entre os avanços recentes, destaca-se o Selpercatinibe, um inibidor de tirosina quinase desenvolvido para pacientes com mutações ou fusões no gene RET. 


Já aprovado em diversos países, o medicamento demonstrou eficácia relevante em
diferentes tipos de câncer, como carcinoma medular de tireoide e câncer de pulmão não pequenas células.


Neste artigo, conheça os mecanismos de ação, indicações clínicas e evidências atuais relacionadas ao uso do Selpercatinibe.


O que é o Selpercatinibe?


O Selpercatinibe é um medicamento classificado como
inibidor de tirosina-quinase (TKI), desenvolvido para tratar cânceres associados a mutações ou fusões no gene RET (Rearranged During Transfection). Essas alterações genéticas promovem o crescimento descontrolado de células tumorais, tornando o gene RET um alvo específico no tratamento oncológico.


Principais indicações:


O Selpercatinibe é indicado para pacientes cujos tumores apresentam alterações no gene RET, sendo fundamental
realizar testes genéticos especializados para sua recomendação.


  • Câncer de pulmão não pequenas células: Casos com fusão RET.
  • Câncer de tireoide medular: Indicado para formas avançadas ou metastáticas com mutações no gene RET.
  • Outros tumores sólidos: Quando alterações RET são identificadas, a indicação é avaliada caso a caso.


Por sua ação altamente direcionada, o Selpercatinibe atua
bloqueando as vias de crescimento tumoral relacionadas ao RET, reduzindo significativamente os impactos nos tecidos saudáveis e aumentando a eficácia terapêutica.


Como o Selpercatinibe funciona?


O Selpercatinibe atua
bloqueando de forma seletiva as proteínas quinase que são ativadas por mutações ou fusões no gene RET. Esse bloqueio interrompe o crescimento desordenado das células tumorais e promove a morte celular, tornando o tratamento mais eficaz e direcionado.


Etapas do mecanismo:

  1. Reconhecimento do alvo: O medicamento identifica e se conecta a alterações específicas no gene RET presentes nas células tumorais.
  2. Inibição da via sinalizadora: Bloqueia as proteínas associadas ao RET, interrompendo os sinais que estimulam a proliferação celular descontrolada.
  3. Redução de danos colaterais: Por agir com alta precisão, o Selpercatinibe minimiza os efeitos em tecidos saudáveis, proporcionando maior segurança em comparação a terapias menos específicas.


Esse mecanismo garante um enfoque personalizado no tratamento de cânceres associados ao RET, aumentando as chances de controle da doença.


Benefícios do Selpercatinibe


O Selpercatinibe destaca-se entre as opções terapêuticas por suas vantagens significativas, especialmente em casos associados ao gene RET.


  • Alta eficácia

Estudos clínicos mostram taxas de resposta superiores a 70%, mesmo em pacientes com cânceres avançados ou metastáticos relacionados a mutações RET.

  • Tratamento personalizado

A abordagem é direcionada para alterações genéticas específicas, o que aumenta a efetividade e a precisão do tratamento, oferecendo maior chance de sucesso terapêutico.

  • Menores efeitos colaterais

Por atuar de forma seletiva, o Selpercatinibe reduz os impactos adversos comuns em terapias sistêmicas, como náuseas severas e fadiga extrema.

  • Prolongamento da sobrevida

Pacientes tratados apresentam maior sobrevida livre de progressão, especialmente em casos de tumores que não respondem bem a tratamentos convencionais.


Essa combinação de benefícios torna o Selpercatinibe uma alternativa avançada e eficaz no tratamento de cânceres com mutações RET.


Resultados Clínicos do Selpercatinibe


Os estudos clínicos, como o
LIBRETTO-001, demonstraram resultados encorajadores em pacientes com alterações no gene RET, destacando o potencial do Selpercatinibe no tratamento de diversos tipos de câncer.


Câncer de pulmão não pequenas células (NSCLC)


Taxa de resposta objetiva de
64% a 70%, incluindo pacientes previamente submetidos a outras terapias.

Redução expressiva no tamanho dos tumores, mesmo em casos avançados. Foi superior ao tratamento padrão com quimioimunoterapia em ensaio de fase 3 randomizado.


Câncer medular de tireoide


Resposta em aproximadamente
73% dos pacientes com mutações RET.

Os tumores apresentaram significativa redução de tamanho, com melhora clínica notável. Também foi superior em ensaio de fase 3 randomizado contra vandetanibe ou cabozantinibe.


Outros tumores sólidos


Respostas variáveis, mas positivas, em casos raros associados ao gene RET, ampliando as possibilidades de uso terapêutico.


Os dados reforçam o impacto do Selpercatinibe em elevar os padrões de tratamento personalizado em oncologia, trazendo novas perspectivas para pacientes com mutações RET.


Mecanismos de Resistência


Sempre que o tumor volte a avançar a despeito do tratamento, é importante buscar os possíveis mecanismos de resistência através de uma
nova biópsia com sequenciamento molecular. Em alguns casos, pode-se detectar um mecanismo específico pelo qual o tumor aprende a contornar o bloqueio induzido pelo selpercatinibe, que leva a alterações de outras vias de sinalização. Esses mecanismos podem ter medicações alvo-dirigidas disponíveis para outras indicações, mas que podem funcionar nesses casos, em uso chamado de off-label. Uma biópsia líquida também pode trazer essas informações sem necessidade de biópsia tecidual.


Possíveis efeitos colaterais


O Selpercatinibe é geralmente bem tolerado, mas alguns pacientes podem apresentar efeitos colaterais, como:

  • Sensação de cansaço frequente.
  • Aumento da pressão arterial.
  • Diarreia, podendo ocorrer em intensidade leve a moderada.
  • Alterações nos exames de função hepática.
  • Náuseas leves.


O
acompanhamento médico contínuo é essencial para identificar e tratar esses efeitos, garantindo a segurança e a eficácia do tratamento.


Perguntas frequentes


  • O que é o Selpercatinibe?

    O Selpercatinibe é um inibidor de tirosina-quinase (TKI) usado para tratar cânceres com alterações no gene RET, como câncer de pulmão, tireoide e alguns tumores raros.

  • Para quais tipos de câncer o Selpercatinibe é indicado?

    Ele é indicado para câncer de pulmão não pequenas células (NSCLC), câncer medular de tireoide avançado ou metastático e outros tumores sólidos com fusões ou mutações no gene RET.

  • Quais são os benefícios do Selpercatinibe em comparação a outros tratamentos?

    Além de ser altamente específico, oferece taxas de resposta acima de 70% em algumas indicações, menor toxicidade em tecidos saudáveis e melhor qualidade de vida.

  • Quais são os efeitos colaterais do Selpercatinibe?

    Os principais efeitos incluem fadiga, aumento da pressão arterial, diarreia, náuseas e alterações nos exames de função hepática. Geralmente são manejáveis com acompanhamento médico.

  • Como é feito o tratamento com Selpercatinibe?

    O Selpercatinibe é administrado via oral, geralmente em duas doses diárias, de acordo com a orientação médica.

  • Quanto tempo dura o tratamento com Selpercatinibe?

    A duração varia de acordo com a resposta do paciente e a progressão da doença, podendo ser mantido por longos períodos, desde que eficaz.

  • O Selpercatinibe está disponível no Brasil?

    Sim, mas sua disponibilidade pode variar por região. Consulte seu oncologista ou centros especializados para informações detalhadas.

  • O Selpercatinibe é eficaz contra cânceres que não possuem alterações no gene RET?

    Não. O Selpercatinibe é direcionado especificamente para tumores com mutações ou fusões no gene RET, sendo ineficaz em tumores sem essas características.

  • Qual é a diferença entre o Selpercatinibe e outros inibidores de tirosina-quinase (TKIs)?

    O Selpercatinibe é altamente seletivo para alterações no gene RET, reduzindo os efeitos colaterais em comparação com TKIs que têm alvos mais amplos.

  • Como o Selpercatinibe melhora a qualidade de vida dos pacientes?

    Por ser direcionado, ele oferece altas taxas de resposta com menos toxicidade, permitindo que os pacientes mantenham uma rotina mais próxima do normal.

  • O Selpercatinibe é eficaz em pacientes que já realizaram outros tratamentos?

    Sim. Estudos mostram alta eficácia mesmo em pacientes com tumores resistentes a terapias convencionais.

  • Quanto tempo leva para o Selpercatinibe começar a fazer efeito?

    Os primeiros resultados podem ser observados em algumas semanas, mas a resposta completa pode levar meses, dependendo do paciente.

Oncologista em São Paulo | Dr. Gustavo Schvartsman


Sou o Dr. Gustavo Schvartsman, médico oncologista formado pela Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo, com especialização em oncologia clínica pelo MD Anderson Cancer Center e atuação no Hospital Israelita Albert Einstein. Trabalho com foco em tratamentos individualizados, baseados em evidências e com o que há de mais atual na oncologia moderna.



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