O que são os inibidores de tirosina-quinase (TKIs) e por que são usados no câncer renal?

Gustavo Schvartsman • 11 de setembro de 2025

O tratamento do câncer renal avançou significativamente nas últimas décadas, e os inibidores de tirosina-quinase (TKIs) se tornaram parte essencial desse progresso. Utilizados principalmente no carcinoma de células renais metastático, esses medicamentos atuam bloqueando mecanismos moleculares que alimentam o crescimento do tumor.


Neste artigo, você vai entender o que são os TKIs, como funcionam e por que são indicados no câncer renal.
Continue a leitura e descubra as principais informações sobre o tema.


O que são os inibidores de tirosina-quinase?


Os inibidores de tirosina-quinase (ou TKIs) são
medicamentos orais usados para interromper sinais moleculares que estimulam o crescimento de alguns tipos de câncer. Essas substâncias atuam bloqueando enzimas chamadas tirosina-quinases, que funcionam como “gatilhos” bioquímicos responsáveis por ativar processos celulares como multiplicação descontrolada, formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese) e resistência à morte celular — mecanismos frequentemente presentes em tumores malignos.


Como atuam no organismo:

  • Interrompem o funcionamento de receptores celulares ligados à proliferação tumoral.
  • Impedem o desenvolvimento de vasos sanguíneos que alimentam o tumor.
  • Dificultam a progressão e a disseminação da doença.


Esse bloqueio contribui para
controlar o crescimento do câncer e é particularmente útil em casos nos quais outras abordagens não surtiram efeito satisfatório.


Por que os TKIs são indicados no câncer renal?


O tipo mais comum de câncer renal em adultos, o
carcinoma de células renais (CCR), geralmente apresenta alterações genéticas que tornam certas vias de sinalização celular muito mais ativas — especialmente as que envolvem os fatores VEGF e PDGF, ligados à angiogênese. Como os TKIs agem diretamente nesses caminhos, eles se tornaram parte fundamental do tratamento em casos avançados da doença.


Motivos que justificam essa indicação:

  • O CCR é um tumor altamente vascularizado e dependente da formação de novos vasos para crescer.
  • Vias celulares ativadas por mutações específicas tornam-se alvos diretos da terapia com TKIs.
  • Estudos clínicos mostraram que o uso dos TKIs melhora o controle da doença e amplia a sobrevida livre de progressão.


Assim, os TKIs são utilizados tanto em
primeira linha de tratamento quanto em situações de progressão da doença ou quando a cirurgia não é uma opção viável.


Quais são os principais TKIs utilizados no câncer renal?


Existem hoje diversas opções de inibidores de tirosina-quinase aprovados para tratar o câncer renal, com mecanismos e perfis de tolerância distintos. A escolha do medicamento ideal é
individualizada, considerando o estágio da doença, o histórico do paciente e possíveis efeitos colaterais.


Alguns dos TKIs mais usados incluem:


Sunitinibe (Sutent®):
atua em múltiplos alvos como VEGFR, PDGFR e c-Kit; foi um dos primeiros da classe usados no CCR.


Pazopanibe (Votrient®):
similar ao sunitinibe em eficácia, mas com perfil de toxicidade diferente.


Axitinibe (Inlyta®):
indicado geralmente como segunda linha de tratamento.


Cabozantinibe (Cabometyx®):
eficaz em pacientes com progressão da doença, atuando também em MET e AXL.


Lenvatinibe (Lenvima®):
frequentemente utilizado em combinação com imunoterapia.


Todos esses medicamentos são de uso
oral, exigindo acompanhamento contínuo para ajustes de dose e controle de efeitos adversos.


Quais são os principais benefícios dos TKIs no câncer renal?


O surgimento dos TKIs transformou a forma como tratamos o carcinoma de células renais metastático, oferecendo aos pacientes
mais tempo e qualidade de vida, mesmo em estágios avançados da doença.


Benefícios observados:

  1. Redução significativa do tamanho do tumor.
  2. Aumento da sobrevida livre de progressão.
  3. Alívio de sintomas relacionados a metástases.
  4. Possibilidade de tratamento ambulatorial, com comprimidos, sem necessidade de internação.


Estudos como o COMPARZ e o CABOSUN evidenciaram o impacto dos TKIs na melhora dos desfechos clínicos e no controle da progressão tumoral.


Quais são os efeitos colaterais mais comuns?


Assim como outras terapias oncológicas, os TKIs podem provocar efeitos adversos. O acompanhamento próximo é fundamental para garantir que o tratamento seja eficaz e bem tolerado. Sendo as reações mais frequentes:

  • Cansaço persistente
  • Pressão alta
  • Diarreia
  • Inflamações na mucosa da boca
  • Alterações hepáticas
  • Síndrome mão-pé (vermelhidão e dor em palmas e plantas)


Com
monitoramento adequado e ajustes de dose, a maioria desses efeitos pode ser controlada sem necessidade de interromper o tratamento.


O que muda quando os TKIs são combinados com imunoterapia?


Nos últimos anos, a combinação de TKIs com imunoterápicos, como os anticorpos anti-PD-1 e anti-PD-L1, trouxe resultados promissores, especialmente em pacientes com câncer renal metastático.


Combinações já aprovadas:

Pembrolizumabe + axitinibe

Nivolumabe + cabozantinibe

Lenvatinibe + pembrolizumabe


Essas associações demonstraram
aumento nas taxas de resposta, prolongamento da sobrevida global e controle mais duradouro da doença..


Quando os TKIs são indicados?


O uso dos TKIs pode ser recomendado em diferentes cenários clínicos, sempre com base em uma avaliação individualizada.


Principais indicações:

  1. Câncer renal metastático ou localmente avançado
  2. Doença que houve recidiva após cirurgia
  3. Falha de tratamentos anteriores
  4. Como tratamento inicial, isolado ou em combinação com imunoterapia


A decisão sobre qual TKI utilizar depende do
perfil molecular do tumor, da resposta anterior a outras terapias e da condição clínica do paciente.


O que é importante avaliar antes de iniciar um TKI?


Antes de iniciar um tratamento com inibidor de tirosina-quinase, é essencial fazer uma
avaliação completa do estado de saúde do paciente, identificando possíveis riscos e necessidades de monitoramento.


Pontos que devem ser analisados:

  • Funções renal e hepática
  • Risco cardiovascular, especialmente em pacientes hipertensos
  • Interações medicamentosas
  • Adesão ao uso contínuo do medicamento via oral


O planejamento do tratamento inclui
exames laboratoriais, avaliações clínicas periódicas e suporte para controle de efeitos colaterais.


Perguntas frequentes


  • O que são os inibidores de tirosina-quinase?

    São medicamentos orais que bloqueiam enzimas chamadas tirosina-quinases, impedindo sinais que estimulam o crescimento e a sobrevivência de células tumorais. Eles ajudam a controlar o câncer ao dificultar a proliferação celular e a formação de novos vasos sanguíneos.

  • Para quais tipos de câncer os inibidores de tirosina-quinase são indicados?

    Esses medicamentos são usados principalmente em cânceres como o de pulmão, rim, fígado, tireoide, leucemias e tumores gastrointestinais, especialmente quando há mutações genéticas que ativam as vias das tirosina-quinases.

  • Como funcionam os inibidores de tirosina-quinase no organismo?

    Eles agem bloqueando os receptores celulares responsáveis por enviar sinais que promovem a divisão celular, a formação de vasos e a resistência à morte celular, contribuindo para desacelerar ou interromper a progressão do câncer.

  • Quais são os principais efeitos colaterais dos inibidores de tirosina-quinase?

    Os efeitos variam, mas os mais comuns incluem fadiga, diarreia, hipertensão, alterações na função hepática, mucosite oral e síndrome mão-pé. O monitoramento contínuo é fundamental para ajustar o tratamento.

  • Os inibidores de tirosina-quinase curam o câncer?

    Eles não são considerados curativos na maioria dos casos, mas são essenciais para controlar a doença, prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida, especialmente em cânceres avançados ou metastáticos.

  • Qual a diferença entre TKIs e imunoterapia?

    TKIs atuam diretamente nas vias celulares tumorais, enquanto a imunoterapia estimula o sistema imunológico a atacar as células cancerígenas. Em alguns casos, os dois tratamentos são combinados para melhores resultados.

  • Quanto tempo dura o tratamento com inibidores de tirosina-quinase?

    A duração varia conforme o tipo de câncer, a resposta ao tratamento e os efeitos colaterais. Em geral, o uso é contínuo enquanto houver benefício clínico e tolerância adequada.

  • É possível combinar inibidores de tirosina-quinase com outros tratamentos?

    Sim. Combinações com imunoterapia, quimioterapia ou outras terapias-alvo são cada vez mais comuns, especialmente em tumores com características moleculares específicas. Essas combinações são definidas com base em estudos clínicos.

  • Como saber se meu câncer responde a TKIs?

    Testes moleculares específicos, como análise de mutações em genes como EGFR, ALK ou VEGFR, ajudam a identificar se o tumor apresenta alvos para esse tipo de tratamento. O oncologista solicita esses exames quando indicados.

  • Quais são os inibidores de tirosina-quinase mais conhecidos?

    Entre os mais utilizados estão o imatinibe, sunitinibe, erlotinibe, gefitinibe, axitinibe, pazopanibe, cabozantinibe e lenvatinibe. A escolha depende do tipo de tumor e do perfil do paciente.


  • Por que nem todos os pacientes com câncer podem usar inibidores de tirosina-quinase?

    Porque seu uso depende da presença de mutações específicas ou da ativação de certas vias celulares. Se o tumor não tiver essas alterações, os TKIs não serão eficazes.

  • Quais exames são necessários antes de iniciar um TKI?

    Geralmente são solicitados exames de sangue (função renal e hepática), eletrocardiograma e testes genéticos ou moleculares para confirmar a indicação do medicamento.

  • É necessário manter uma dieta específica durante o uso de TKIs?

    Alguns alimentos e suplementos podem interferir na absorção dos TKIs ou aumentar seus efeitos colaterais. O médico pode orientar restrições como evitar toranja (grapefruit) e certos fitoterápicos.

  • Os TKIs continuam funcionando se o câncer voltar a crescer?

    Nem sempre. Em alguns casos, o tumor desenvolve resistência ao medicamento, e o oncologista pode indicar troca por outro TKI ou combinação terapêutica mais eficaz.


  • Existe diferença entre os TKIs de primeira, segunda e terceira geração?

    Sim. Eles evoluem em especificidade, potência e capacidade de superar mecanismos de resistência tumoral. A escolha depende do estágio da doença e da mutação presente.


  • O tratamento com TKIs pode ser interrompido temporariamente?

    Sim, em alguns casos, como durante efeitos colaterais intensos ou outros tratamentos paralelos. A interrupção, no entanto, deve ser feita com acompanhamento médico rigoroso.

  • É possível desenvolver resistência aos TKIs com o tempo?

    Sim. O tumor pode sofrer mutações adicionais que o tornam insensível ao medicamento inicial. Por isso, é comum trocar o TKI ou combiná-lo com outras terapias ao longo do tratamento.

Especialista em oncologia em São Paulo | Dr. Gustavo Schvartsman


Os inibidores de tirosina-quinase revolucionaram o tratamento do câncer renal ao oferecerem uma alternativa eficaz e direcionada para controlar a progressão tumoral. Seja como monoterapia ou em combinação com imunoterapia, esses medicamentos
representam esperança real para pacientes com carcinoma de células renais avançado. A escolha do tratamento ideal deve ser feita com base em avaliações clínicas precisas e acompanhamento especializado.


Se você busca por um oncologista com expertise e experiência, sou o Dr. Gustavo Schvartsman, especialista em oncologia clínica. Formado pela Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo, me especializei no MD Anderson Cancer Center, adquirindo experiência internacional e aprofundando meu foco em imunoterapia. Hoje atuo no Hospital Israelita Albert Einstein, onde ofereço tratamentos personalizados e terapias de última geração.


Meu compromisso é garantir que cada paciente receba o melhor cuidado possível e as opções de tratamento mais adequadas para seu caso. Para mais informações, acesse o meu site ou clique aqui para agendar uma consulta.



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