Câncer de mama triplo negativo: Quais os tratamentos mais modernos disponíveis?

Gustavo Schvartsman • 30 de julho de 2025

O câncer de mama triplo negativo é um subtipo menos comum, porém mais agressivo, da doença. Ele representa cerca de 10% a 15% dos casos de câncer de mama e se caracteriza por não expressar receptores hormonais (estrogênio e progesterona) nem a proteína HER2. Por isso, seu tratamento apresenta desafios específicos e exige abordagens diferentes dos outros tipos de câncer de mama.


Neste artigo, entenda o que é o
câncer de mama triplo negativo e conheça os tratamentos mais modernos e promissores atualmente disponíveis. Continue a leitura e veja como a medicina tem evoluído nessa área.


O que é o câncer de mama triplo negativo?


O câncer de mama triplo negativo é identificado quando, após a biópsia, o tumor não apresenta receptores hormonais para estrogênio, progesterona e nem expressa a proteína HER2. Isso significa que
ele não responde à hormonioterapia (como tamoxifeno ou anastrozol), não pode ser tratado com terapias anti-HER2 (como trastuzumabe) e tende a apresentar comportamento mais agressivo, com crescimento acelerado e maior risco de metástases precoces.


Esse subtipo é mais comum em mulheres com
menos de 40 anos, em pacientes com mutações no gene BRCA1 e também em populações específicas, como mulheres negras ou latino-americanas.


Principais desafios no tratamento do câncer de mama triplo negativo


Uma das maiores dificuldades no tratamento do câncer de mama triplo negativo é a
falta de receptores específicos que permitam o uso de terapias direcionadas, como ocorre em outros subtipos. Isso impacta diretamente nas opções de tratamento disponíveis. Além disso:


  • A chance de recidiva é maior nos primeiros 3 a 5 anos após o tratamento
  • O tumor não é sensível a bloqueadores hormonais
  • O prognóstico costuma ser menos favorável quando comparado a tumores luminais ou HER2 positivos


Apesar desses desafios, esse tipo de câncer costuma apresentar boa resposta à
quimioterapia, o que ainda é a base do tratamento.


Assista ao vídeo: Tudo sobre câncer de mama



Tratamentos convencionais


Na ausência de alvos moleculares específicos, a
quimioterapia sistêmica continua sendo a principal ferramenta terapêutica. Ela pode ser utilizada em diferentes momentos da jornada do tratamento:


  • Antes da cirurgia (neoadjuvante): para reduzir o tamanho do tumor e facilitar a remoção
  • Após a cirurgia (adjuvante): para eliminar possíveis células remanescentes
  • Em casos metastáticos: como estratégia para controlar a progressão da doença


Os esquemas mais utilizados envolvem antraciclinas, taxanos e, em alguns casos, derivados de platina, como a carboplatina, especialmente em pacientes com mutação BRCA.


Novas abordagens no tratamento do câncer de mama triplo negativo


Imunoterapia: Ativando o sistema imunológico


Nos últimos anos, a
imunoterapia tem se mostrado uma aliada importante no tratamento do câncer de mama triplo negativo. Medicamentos que atuam nos chamados pontos de checagem imunológicos (checkpoints) ajudam o sistema imunológico a reconhecer e atacar as células tumorais.


As principais opções atualmente aprovadas incluem:


  • Pembrolizumabe (Keytruda), aprovado para pacientes com tumores metastáticos em combinação com quimioterapia em pacientes com PD-L1 positivo (CPS>10).
  • Pembrolizumabe (Keytruda), aprovado para uso tanto no pré-operatório quanto no pós-operatório de pacientes com doença localizada de alto risco, em combinação com quimioterapia
  • Atezolizumabe (Tecentriq) em combinação com nab-paclitaxel, para pacientes com doença metastática PD-L1 positiva


Hoje, temos
novidades na doença metastática PD-L1 positiva, onde a combinação de pembrolizumabe com a nova molécula sacituzumabe govitecan foi superior ao tratamento de pembrolizumabe com quimioterapia convencional, mas ainda não dispõe de aprovação pela ANVISA.


Essas terapias têm demonstrado
melhora na resposta patológica completa e no controle da progressão da doença.


Terapias alvo-dirigidas


Em alguns casos, mesmo sem expressão de HER2, o câncer pode carregar mutações hereditárias nos genes BRCA1 ou BRCA2, abrindo caminho para o uso de
terapias-alvo.


BRCA

Dentre elas, destacam-se os inibidores de PARP, como:


  • Olaparibe (Lynparza)
  • Talazoparibe (Talzenna)


Esses medicamentos interferem na reparação do DNA em células tumorais,
induzindo a morte seletiva das células cancerígenas. Podem ser usados em doença metastática ou em adjuvância para pacientes com mutações germinativas comprovadas. Também podem funcionar, em uso off-label, para outras mutações hereditárias que afetam a mesma via, como RAD51, PALB2, entre outras.


TROP2

A proteína de superfície TROP2 é comumente superexpressa em câncer de mama triplo-negativo. Hoje, anticorpos conjugados a drogas (ADCs) são uma classe nova de tratamentos que entregam a quimioterapia diretamente dentro da célula tumoral através do mecanismo que chamamos de cavalo de Tróia: nesse exemplo, o anticorpo anti-TROP2 se liga ao TROP2 na célula tumoral e é internalizado para dentro da célula. Lá, libera a quimioterapia que estava conjugada nele. Dessa forma, mais quimioterapia chega no tumor, e menos na célula saudável. O sacituzumabe govitecan já tem aprovação após falha de tratamentos com quimio e imunoterapia, e o datopotamabe-deruxtecan deve ser aprovado até o final do ano.


HER-2

Mesmo sem superexpressão de HER-2 (o que chamamos de 3+, ou FISH positivo), o tratamento com trastuzumabe-deruxtecan pode ser útil em tumores com baixa expressão de HER-2 (escores 1+ ou 2+). Já tive casos de tumores triplo-negativos mas que tinham baixa expressão do HER-2 com excelentes respostas à essa molécula. Isso reforça, inclusive, a necessidade de rebiópsias em alguns casos de expressão 0+ para se pesquisar uma baixa positividade em outro lugar que a doença esteja.


Estratégias combinadas


A oncologia moderna caminha para abordagens cada vez mais personalizadas e combinadas. As estratégias que estão sendo estudadas incluem:


  • Quimioterapia + imunoterapia, para potencializar a ação antitumoral
  • Inibidores de PARP + imunoterapia, para pacientes com mutações BRCA
  • Terapias-alvo + novos agentes biológicos, com base em biomarcadores moleculares


Essas combinações vêm sendo avaliadas em grandes ensaios clínicos internacionais e apresentam resultados promissores, especialmente em casos avançados.


A importância do teste genético nesse subtipo


O
teste para mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 é altamente indicado em pacientes com câncer de mama triplo negativo, principalmente quando o diagnóstico ocorre antes dos 60 anos.


Identificar essas mutações permite:


  • Indicar o uso de inibidores de PARP, quando indicado
  • Avaliar risco de novos tumores
  • Recomendar testes preventivos a familiares


Além disso, painéis genéticos ampliados podem revelar outros alvos terapêuticos que estão sendo explorados em estudos clínicos.


Assista:

Câncer de Mama: Importância de retestar os marcadores



O acompanhamento contínuo é essencial


Depois do tratamento inicial,
o acompanhamento deve ser rigoroso. A maior chance de recidiva está concentrada nos primeiros anos, o que exige atenção constante da equipe médica.


Esse acompanhamento costuma incluir:


  1. Consultas clínicas regulares
  2. Exames de imagem personalizados, de acordo com o caso
  3. Orientações sobre sintomas de alerta e promoção da saúde


O suporte psicológico, nutricional e físico também tem papel fundamental no bem-estar e na recuperação da paciente.


Perguntas frequentes



  • O que significa câncer triplo-negativo?

    O câncer de mama triplo-negativo é um subtipo que não expressa receptores de estrogênio, progesterona nem HER2, o que limita algumas opções de tratamento.


  • O câncer de mama triplo negativo é perigoso?

    Sim. É considerado um tipo mais agressivo, com maior chance de crescimento rápido, metástases precoces e recidiva nos primeiros anos após o tratamento.


  • O câncer de mama triplo negativo pode voltar?

    Sim. Esse subtipo tem maior risco de recidiva nos primeiros 3 a 5 anos, especialmente em casos mais avançados ou sem resposta completa ao tratamento.


  • Quais são os sintomas do câncer de mama triplo negativo?

    Os sintomas são semelhantes a outros tipos de câncer de mama: presença de nódulo, alterações na pele da mama, secreção mamilar e inchaço. O diagnóstico definitivo depende de exames de imagem e biópsia com análise molecular.


  • Quem tem mais risco de desenvolver câncer de mama triplo negativo?

    Mulheres com menos de 40 anos, pessoas com mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2 e mulheres negras têm maior risco de desenvolver esse tipo de câncer.

  • Câncer de mama triplo negativo tem cura?

    Sim. Quando diagnosticado precocemente e tratado de forma adequada, há possibilidade de cura. No entanto, o risco de recidiva é maior nos primeiros anos, o que exige acompanhamento rigoroso.


  • Qual é o melhor tratamento para câncer de mama triplo-negativo?

    A base do tratamento inclui quimioterapia, imunoterapia e, em alguns casos, inibidores de PARP para pacientes com mutação BRCA.


  • O que alimenta o câncer triplo-negativo?

    Esse tipo de tumor não depende de hormônios, mas pode ser impulsionado por alterações genéticas, inflamação e vias moleculares específicas que ainda estão em estudo.


  • Qual a chance de cura do câncer de mama triplo negativo?

    Quando diagnosticado precocemente e tratado com sucesso, as chances de cura aumentam, podendo superar 70%. Casos metastáticos, porém, têm prognóstico mais reservado.


  • Quanto tempo vive uma pessoa com câncer de mama triplo negativo?

    A sobrevida depende do estágio. Em estágio inicial, a taxa de sobrevida em 5 anos pode chegar a 77%. Em estágio metastático, a mediana de sobrevida gira em torno de 12 a 18 meses.


  • Qual é a média de sobrevida para pacientes com câncer de mama triplo-negativo metastático?

    A média varia entre 12 e 18 meses, mas novas terapias como imunoterapia e inibidores de PARP têm melhorado progressivamente esse cenário em alguns grupos de pacientes.

  • Quem tem câncer de mama triplo negativo deve fazer teste genético?

    Sim. Pacientes diagnosticadas antes dos 60 anos devem ser avaliadas para mutações em BRCA1/BRCA2, o que pode influenciar tanto no tratamento quanto nas estratégias de prevenção para familiares.


    Assista: https://www.youtube.com/watch?v=aPPblBRKKPA


  • Câncer de mama triplo negativo é hereditário?

    Em alguns casos, sim. Está frequentemente associado a mutações hereditárias nos genes BRCA1 e BRCA2. Por isso, o histórico familiar deve ser avaliado com atenção.


  • É possível tratar o câncer triplo negativo com terapia-alvo mesmo sem HER2?

    Sim, desde que o tumor apresente mutações genéticas específicas, como BRCA. Nesses casos, medicamentos como os inibidores de PARP podem ser eficazes.

  • Por que o câncer triplo negativo não responde à hormonioterapia?

    Porque ele não possui receptores de estrogênio e progesterona nas células tumorais, o que torna a hormonioterapia ineficaz nesse tipo de câncer.


  • Se o tumor triplo negativo for removido com cirurgia, ainda é preciso tratar?

    Geralmente sim. Mesmo após a remoção completa, há risco de células cancerígenas remanescentes, por isso a quimioterapia adjuvante é frequentemente indicada.


  • Qual a diferença entre câncer de mama triplo negativo e outros tipos de câncer de mama?

    A principal diferença está na ausência de alvos terapêuticos hormonais ou HER2, o que limita algumas opções de tratamento e exige abordagens mais específicas.


Especialista em oncologia em São Paulo | Dr. Gustavo Schvartsman


O câncer de mama triplo negativo é um dos subtipos mais desafiadores, mas os avanços recentes vêm transformando a forma como a doença é tratada. Imunoterapia, inibidores de PARP e esquemas quimioterápicos mais eficazes têm
aumentado as chances de resposta e prolongado a sobrevida de muitas pacientes.


Se você ou alguém próximo recebeu esse diagnóstico, é fundamental
conversar com um oncologista especializado e conhecer todas as possibilidades de tratamento disponíveis.


Você sabia que a escolha do tratamento pode mudar completamente de acordo com a presença de determinadas mutações genéticas?

Se você busca por um oncologista com expertise e experiência, sou o Dr. Gustavo Schvartsman, especialista em oncologia clínica. Formado pela Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo, me especializei no MD Anderson Cancer Center, adquirindo experiência internacional e aprofundando meu foco em imunoterapia. Hoje atuo no Hospital Israelita Albert Einstein, onde ofereço tratamentos personalizados e terapias de última geração. Meu compromisso é garantir que cada paciente receba o melhor cuidado possível e as opções de tratamento mais adequadas para seu caso. Para mais informações, acesse o meu site ou clique aqui para agendar uma consulta.


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