Imunoterapia no câncer de cabeça e pescoço

Gustavo Schvartsman • 24 de setembro de 2025

O câncer de cabeça e pescoço inclui tumores que afetam regiões como boca, faringe, laringe e cavidade nasal. O tratamento convencional envolve cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Nos últimos anos, a imunoterapia emergiu como uma alternativa, capaz de melhorar a resposta clínica e a sobrevida de muitos pacientes.


Neste artigo, entenda como funciona a imunoterapia no câncer de cabeça e pescoço, em quais casos ela é indicada, seus principais benefícios e limitações.
Continue a leitura para compreender melhor essa estratégia terapêutica.


O que é a imunoterapia e como ela age?


A
imunoterapia é um tipo de tratamento que estimula o sistema imunológico a reconhecer e atacar as células cancerígenas. Entre as principais estratégias estão os inibidores de checkpoint imunológico, medicamentos que bloqueiam proteínas como PD-1 e PD-L1, utilizadas pelos tumores como “escudos” para escapar da ação do organismo. Ao inibir esses mecanismos, o tratamento reativa as células de defesa e aumenta a capacidade de combate ao câncer. Em alguns casos, inclusive nos estágios mais avançados da doença, os efeitos podem ser duradouros, oferecendo melhores perspectivas aos pacientes.


Por que usar imunoterapia no câncer de cabeça e pescoço?


Em tumores de cabeça e pescoço localmente
avançados ou metastáticos, principalmente quando a quimioterapia não apresenta bons resultados, a imunoterapia se tornou uma alternativa importante. Muitos desses tumores apresentam expressão da proteína PD-L1, o que os torna mais suscetíveis ao bloqueio imunológico.


Ensaios clínicos comprovaram ganhos na sobrevida global em determinados perfis de pacientes, reforçando a relevância dessa estratégia terapêutica, seja de forma isolada ou em combinação com a quimioterapia.





Principais imunoterápicos aprovados


Hoje já existem medicamentos aprovados para uso em câncer de cabeça e pescoço:


Nivolumabe (Opdivo®):
indicado para pacientes com doença avançada que não responderam à quimioterapia com platina.


Pembrolizumabe (Keytruda®) para doença metastática ou localmente avançada sem proposta cirúrgica:
pode ser utilizado como primeira linha em tumores PD-L1 positivos, com ou sem quimioterapia. 


Pembrolizumabe (Keytruda®) para doença localmente avançada:
indicação recentemente aprovada em Setembro/2025 que utiliza a medicação por duas doses antes da cirurgia e continua após a cirurgia, juntamente com radioterapia e/ou quimioterapia pós-operatórios para tumores de alto risco.


Benefícios da imunoterapia


Os principais ganhos observados com a imunoterapia incluem:


  1. Aumento da sobrevida, principalmente em pacientes com doença metastática.
  2. Menor toxicidade em relação à quimioterapia, reduzindo efeitos como náuseas e queda de cabelo.
  3. Melhoria da qualidade de vida, permitindo que muitos pacientes mantenham suas atividades.
  4. Respostas mais duradouras, com controle prolongado da doença em alguns casos.


Limitações e desafios


Apesar do avanço, a imunoterapia
não é eficaz para todos. Apenas cerca de 15% a 20% dos pacientes apresentam resposta significativa quando usada isoladamente, e a eficácia depende da presença de biomarcadores como PD-L1. Múltiplas estratégias estão sendo estudadas para que mais pacientes tirem benefício dessa classe terapêutica.


Efeitos colaterais mais comuns


Embora a imunoterapia seja geralmente bem tolerada, ela pode desencadear
efeitos relacionados à ativação excessiva do sistema imunológico. Entre os mais comuns estão fadiga, erupções cutâneas, inflamações como tiroidite, colite ou pneumonite e, em casos raros, reações autoimunes mais graves.


O
acompanhamento constante é essencial, já que a maioria desses efeitos pode ser controlada sem a necessidade de interromper o tratamento.


Quem pode se beneficiar da imunoterapia?


A indicação depende da avaliação médica, considerando:


  • Presença de metástases ou recidiva após tratamento inicial.
  • Nível de expressão do biomarcador PD-L1.
  • Condições clínicas gerais do paciente.
  • Tumores refratários à quimioterapia padrão


O futuro da imunoterapia no câncer de cabeça e pescoço


A pesquisa científica segue em ritmo acelerado, com estudos que avaliam o uso da imunoterapia em
estágios mais precoces da doença e em associação com outras modalidades, como radioterapia e terapias-alvo.

Além disso, novos biomarcadores estão sendo estudados para selecionar melhor os pacientes que terão mais chance de resposta. Esses avanços apontam para um futuro em que a imunoterapia ocupe posição cada vez mais central no tratamento oncológico.


Imunoterapia está disponível no SUS e planos de saúde?


No Brasil, o SUS
a cobertura ainda é restrita. Nos planos de saúde, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) incluiu alguns medicamentos no rol de cobertura obrigatória, desde que haja indicação médica. Além disso, há pacientes que conseguem acesso por meio de participação em ensaios clínicos.


Perguntas frequentes


  • O que é imunoterapia no câncer de cabeça e pescoço?

    É um tratamento que estimula o sistema imunológico a reconhecer e atacar as células tumorais dessa região, bloqueando mecanismos usados pelo câncer para se esconder das defesas do corpo.


  • Para quem a imunoterapia é indicada?

    Geralmente, é indicada para pacientes com tumores localmente avançados ou metastáticos e quando há expressão de PD-L1.


  • Quais medicamentos de imunoterapia são usados nesse tipo de câncer?

    Os principais aprovados são o nivolumabe (Opdivo®) e o pembrolizumabe (Keytruda®), podendo ser usados sozinhos ou em combinação com quimioterapia em casos selecionados.


  • A imunoterapia pode ser usada como primeira linha de tratamento?

    Sim. Em pacientes com tumores que expressam altos níveis de PD-L1, o pembrolizumabe pode ser usado já no início do tratamento, isoladamente ou associado à quimioterapia.


  • Quais são os benefícios da imunoterapia no câncer de cabeça e pescoço?

    Ela pode aumentar a sobrevida, oferecer respostas mais duradouras, apresentar menos efeitos colaterais que a quimioterapia e contribuir para melhor qualidade de vida.


  • Todos os pacientes respondem bem à imunoterapia?

    Não. Apenas cerca de 15% a 20% dos pacientes apresentam resposta significativa em monoterapia, o que reforça a necessidade de exames moleculares para seleção adequada.


  • Quais são os efeitos colaterais da imunoterapia?

    Eles estão relacionados à ativação do sistema imune e podem incluir fadiga, erupções cutâneas, inflamações como colite, pneumonite ou tiroidite, além de reações autoimunes.


  • O câncer de cabeça e pescoço HPV-positivo responde diferente à imunoterapia?

    Não necessariamente. Estudos indicam que tumores HPV-positivos tendem a ser mais imunogênicos e expressar mais PD-L1, o que pode aumentar a chance de resposta em comparação aos HPV-negativos, mas o principal biomarcador ainda é o PD-L1.

  • A imunoterapia pode ser usada antes da cirurgia?

    O pembrolizumabe foi recentemente aprovado em cenário peri-operatório (antes e depois da cirurgia), com o objetivo de imunoestimulação e reduz o risco de recidiva de forma significativa versus o tratamento apenas com cirurgia e radioterapia +- quimioterapia.

  • Existe risco de a imunoterapia acelerar o crescimento do tumor?

    Em alguns casos raros ocorre o chamado “hiperprogressor”, em que o tumor cresce mais rápido após o início da imunoterapia. Não é claro se a imunoterapia que provoca isso ou se é a história natural da doença agressiva. Por isso, o monitoramento é rigoroso.


  • Imunoterapia pode ser combinada com radioterapia no câncer de cabeça e pescoço?

    Sim. Há estudos mostrando que a radioterapia pode aumentar a exposição de antígenos tumorais, potencializando a ação da imunoterapia.



Especialista em oncologia em São Paulo | Dr. Gustavo Schvartsman


A imunoterapia no câncer de cabeça e pescoço representa um avanço significativo, oferecendo novas perspectivas para pacientes que antes tinham poucas opções. Apesar de não funcionar para todos,
já é capaz de prolongar a vida e melhorar a qualidade de muitos pacientes. O futuro aponta para terapias combinadas e personalizadas, que podem ampliar ainda mais sua eficácia.

Você já conhecia a imunoterapia? Que tal conversar com um médico sobre a possibilidade da inclusão dela no seu tratamento?

Se você busca por um oncologista com expertise e experiência, sou o Dr. Gustavo Schvartsman, especialista em oncologia clínica. Formado pela Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo, me especializei no MD Anderson Cancer Center, adquirindo experiência internacional e aprofundando meu foco em imunoterapia. Hoje atuo no Hospital Israelita Albert Einstein, onde ofereço tratamentos personalizados e terapias de última geração. Meu compromisso é garantir que cada paciente receba o melhor cuidado possível e as opções de tratamento mais adequadas para seu caso. Para mais informações, acesse o meu site ou clique aqui para agendar uma consulta.



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